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♥ Ensaios ♥
       'Quantos gritos cabem dentro de um silêncio?'
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Ela
<> quarta-feira, 29 de outubro de 2014 // 16:33

Ela, que não cheira a cravo nem tem cor de canela. Ela, que é em tudo e em mais um pouco igual a mim. Como irei lhe deixar? Dizem que passamos a vida inteira em busca de um amor e que quando se acha deve-se agarrar com todas as forças. Um bocado de drama isso, né? Quem fala é uma escritora, creio que não poderia ser diferente.
Já gostei, já amei, mas nunca fui amada.
Sabe tão bem ver que realmente alguém tá me falando a verdade.
Me perdi. Me perdi entre a tua boca e a minha. Só consigo me achar momentaneamente, quando as duas se juntam. Nunca é pelo tempo suficiente para que eu recupere minha alma.
Tô completamente perdida.
É a mulher da vida de alguém, que passa pela minha. E tudo o que meu coração quer é ser parte desse alguém. Pela primeira vez deixei de me sentir provisória. Realmente quero e quero por um bom tempo.
Tempo esse que eu não tenho.

Ausência
<> terça-feira, 3 de junho de 2014 // 17:30

Um, dois, Três, quatro. Cinco andares. A ponta de uma faca. O estrondo de um carro se chocando. Um revólver reluzente. A morte está em cada canto, não se esconde, como era de se esperar. Se mostra, se exibe, seduz e convida. Assombra. Aterroriza. Não pela proximidade, mas pela facilidade, pela rapidez com que uma morte pode ser executada.
A ausência da existência.
Assusta, o quão fácil pode acabar. Chega a ser absurdo não o fazer, não tomar o controle e decidir o momento de conhecer a escuridão. Apenas um pulo, um movimento, um passo. Uma queda. Já era.
Contudo ele ainda permanece lá, no alto do prédio, observando o tráfego.
Por que não? O que o impede?
A simplicidade o impele.
Um passo. Não.
Sim.
Ande para o céu, ele está logo ali, provoca a si mesmo.
Não.
Ele deixou pra depois, por enquanto, deixa tudo como está.
Sim.

Autora: Júlia Orige

Puta não é Xingamento.
<> terça-feira, 27 de maio de 2014 // 16:01



O ato de dar a luz, sujo e puro, pertence à mulher. Capaz de assustar ou gerar veneração, a fertilidade sempre foi o ponto crucial de diferenciação entre os gêneros. As deusas das sociedades matriarcais, gordas e de seios fartos, só eram cultuadas por sua misteriosa capacidade de gerar filhos. Até que o homem descobriu seu papel na criação e a propriedade privada surgiu, com uma nova necessidade: herdeiros. Assim o homem fez da mulher um bem.

Aí vem Gabriela, que cheira a cravo e tem cor de canela, Gabriela que bate com os pés na areia, que segue o ritmo. Gabriela que clama por liberdade. Liberdade que sente em seu peito. Tem algo dentro dela que grita que amor não tem nada a ver com monogamia. Mesmo sem bases históricas, Gabriela sabe que não é natural. A monogamia sempre foi somente para a mulher, era a única maneira de atestar a paternidade. Com o tempo perdeu-se o objetivo e o casamento se consolidou sem questionamentos. O adultério, quando criminalizado, tem penas muito mais fortes para as mulheres. Sakineh pode provar. Mesmo sem as leis da sharia, sem pedras para atirar, a consciência coletiva aponta e exclui a mulher que trai. O homem adúltero tá apenas cedendo aos seus instintos, afinal é normal para o patriarcado o homem ter mais desejo.

Ao dizer que não se nasce mulher, torna-se mulher, Simone de Beavoir não intencionava incentivar a feminilidade. Mas chamava a atenção para o fato de que as características femininas não nascem com a mulher, são impostas a ela. Há uma grande necessidade de diferenciar os sexos. Coisas de meninos e coisas de meninas. As crianças crescem sendo ensinadas a se portar de acordo com um gênero.A marcha das vadias atravessou o país e puta ainda é xingamento, a  cultura do estupro bate à porta e a maioria das mulheres a acolhe como uma velha conhecida. Lisbeth Salander, de "Os Homens que não Amavam as Mulheres", faz o papel que há muito alguns precisam ver. Uma mulher, que longe de ser fraca, se vinga de seu estuprador. Mulher, para ser mulher, não necessita representar a coitadinha, a frágil, a donzela em perigo. A opinião popular diz que a culpa é da vítima, que estava no lugar errado, na hora errada, com as roupas erradas. Mas não se preocupa em ensinar a não estuprar, se ocupa em ensinar a não ser estuprada. Porque o prazer ainda pertence ao homem, que se encontra na difícil tarefa de não ceder a ele.

 O grande problema do estupro é que ele não constitui a exceção. Está enraizado na consciência coletiva. É quase normal. Estupro não é somente penetração, estupro é qualquer toque invasivo e não consentido. Se um homem obrigar sua esposa a fazer sexo ele a está estuprando. Se um pai usar de sua autoridade para tocar na filha; é estupro. Sexo não consentido é crime.

O prazer feminino renasceu com o feminismo, assim que os gemidos saíram da marginalidade. Faz pouco tempo que foi permitido à mulher ocidental sentir prazer. Sem entrar em algumas culturas orientais onde é praticada a "castração" feminina. (O clitóris é dilacerado para que a mulher não possa sentir prazer.) Mas ainda reina o velho conceito de "meninas para casar" e "meninas para pegar". Mulher que se entrega ao sexo não é confiável, muito menos aceitável para se construir uma vida junto, que dirá para parir os filhos. 

A Bíblia não deixa espaço pra dúvida. Eva, pecadora, condenou todos cedendo ao seu desejo. E Maria, exemplo de virtude, dá a luz ainda virgem. Qual a mensagem que isso passa? Não sem influência da igreja, a sociedade tenta de todas as formas punir a mulher que fez sexo. Ou melhor, a mulher que gosta de sexo. Todos se sentem muito confortáveis em dar palpites na virgindade das meninas, em aconselhá-las a guardá-la e dá-la somente ao homem com quem vai se casar, porque menina de respeito é virgem. E tem de tomar cuidado, homens só querem uma coisa (encaixe aqui uma velha usando o dedo para enfatizar). Não só Estado tutela o corpo feminino proibindo o aborto e a laqueadura, como a sociedade tutela impondo regras e castigos.

Para que qualquer coisa comece a mudar, é preciso que mais pessoas se disponham a lutar por. Não é impossível, há cem anos mulheres não podiam votar! Olha o que já foi conquistado! O mundo precisa de mais Simones, mais Gabrielas e mais Lisbeths.

Autora: Júlia Orige

Foto tirada na Marcha das Vadias 2014, em Floríanópolis. (não sei quem é o fotográfo, se souber fale)




Contra o Vento, Contra o Tempo.
<> segunda-feira, 26 de maio de 2014 // 18:50


Seguia em sentido oposto. Contra o tempo, contra o vento, alheia à tudo e à todos.

Corria de quê? Corria de quem? Não se sabe, ela não explicou. Mas visivelmente fugia. Diria eu que ela só se escondia do mundo, das manias e más companhias que a acompanhavam. Alguns, mais tontos, lhe mandavam ladainhas, susurravam-lhe resmungos e julgavam aquela que ia contra a corrente. No entanto ela ia sempre em frente, sem olhar para trás, pra evitar tropeços.

Também diria que ela fugia dos pares ordenados e dos outros bagunçados. Diria que ela fugia da boba necessidade humana de transformar sonhos em números e fazê los caber dentro de um pote selado. Fugia daquelas mal traçadas que queriam calcular a profundidade da alma, que determinavam o volume do silêncio e que queriam saber quantos e quais tons poderiam ser vistos num pedaço pequeno de escuro.

Já sabia que o mundo seguia depois do 0 e 180, que a vida, e o além dela, passavam longe das tangentes dos meridianos. Compreendia o infinito e aceitava o indomável.
Ainda assim corria, fugia... Mas sempre em frente, sem olhar pra trás, pra evitar tropeços.

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O que faz alguém gostar de alguém?
<> segunda-feira, 28 de abril de 2014 // 19:30

Amar pode ser indescritível, como o beijo e a dor, que se assemelham por só poderem ser descritos no momento em que são sentidos.

Sempre achei que quando se conhece uma pessoa demais, quando se toma conhecimento de seus pequenos detalhes, se torna impossível não amá-la. Porque para mim o amor sempre teve uma causa. Ama-se porque tal pessoa é legal, é confiável, é inteligente, é bonita, é atenciosa. Ama-se porque se tem vontade de cuidar. Porque se tem tesão. Ama-se em agradecimento.  

Por que você ama?
Tem quem diga que ama só por amar. Mas se se ama só por amar é porque amar faz algum bem. Logo se ama porque amar faz bem, não somente por amar. É como o paradoxo das ações altruístas. Porém, amar uma pessoa implica em quem é essa pessoa e o que ela fez para merecer ser amada. 
Tem uma teoria, de que o primeiro amor que sentimos, pela mãe, é uma maneira de conseguir comida. E assim segue, amor como troca de favores. Primeiro ama-se a mãe para depois ela dar leite ou ela dá leite e depois ama-se como agradecimento? Ou se ama a mãe mesmo se ela não fornecer comida?
Arte por Mari Danielski
Acho que amar é sim uma troca de favores, ama-se em troca de alguma coisa. Mesmo que seja um sorriso. Mesmo que o que se receba em troca é ter a sensação de fazer algum bem por alguém.

É bom amar só por amar, sem o desespero da troca. É bom simplesmente amar. O ser humano tem a necessidade não só de ser amado, como de amar. A própria religião é uma maneira de amor não recíproco. A pessoa se contenta em amar um deus mesmo sem ganhar nada em troca, mesmo sem ter a certeza de ser amada de volta.  Então o Homem não precisa do amor só como uma desculpa para aproximar as pessoas, precisa para apaziguar sua alma.

O sentimento pode ser algo racional também, ninguém realmente ama se não o quer. Você manda, sim, no seu coração. A questão é: você quer amar?
Sim, independente de quem, porque é melhor sofrer que não sentir nada.




Alguém disse uma vez que na hora em que se pára para pensar se gosta de alguém, já se deixou de gostar da pessoa para sempre. (Carlos Ruiz Zafón)

Autora: Júlia







Tudo e Nada Dentro de um Toque
<> segunda-feira, 14 de abril de 2014 // 18:34

Arte: Mari Danielski


                   Foi um beijo. Um beijo sem fim e sem começo, que só foi beijo por ser beijo. Um beijo macio e sem segundas intenções. Um beijo que falava mais do que queria dizer, que mostrava uma parte de si que tentava esconder. Parte que não teve sucesso em sua empreitada. Foi uma uma falta de controle ordenada. A cada toque, a cada nova pressão, uma nova descarga elétrica. Não como os beijos que de eletrificam pela perspectiva de outros toques, foi um beijo que se eletrificava por si mesmo, de prazer pelo simples beijo.
                   Um beijo que primeiro o era, e que depois não o era mais, só para o ser novamente com maior intensidade. Foi um beijo de almas, em que a carne só participava por estar entediada. Ali foram as emoções que se tocavam, fluindo de um corpo para o outro, pairando no pouco ar que havia entre eles. Foi um beijo que teve mais significado que todas as palavras proferidas. Um beijo que seria impossível descrever passo a passo. Para falar a verdade, ela não se lembra, se perdeu, caiu dentro daquilo que fluía, sem saber como ou porque. Só se esqueceu de prestar atenção a si mesma. Agora se esforça para lembrar, se foi mesmo um beijo, ou só tempo demais passado a sonhar acordada.

Autora: Júlia

Coisas que ela dizia
<> sexta-feira, 28 de março de 2014 // 12:01




A menina disse um dia, que era boa em dar títulos. Pensava por demais, floreava por demais, tinha idéias por demais e nunca parava de pensar. Mas aí o problema aparecia: na hora de escrever seus devaneios, ela pensava ainda mais. E mais. E mais. E mais... acabava sempre por se distanciar daquilo que iria falar de início. Por isso, era boa em dar títulos. Um breve, nem sempre tão claro e bonito, mas um título.

'Ah! Mas por que um título?' Vejamos bem, meu caro, um título traduzia tudo aquilo que ela pensava! Era a solução que a pequena achava. Um título não mede parágrafos, portanto, não mediria seus pensamentos e nem mesmo contaria linhas. Útil. Um título não condensava uma só opinião e um título ainda não lhe restringiria as idéias. Muito mais útil. Um simples e breve título, era o que bastava para ela. Uma pauta, assunto, tema ou um comentário poderiam aparecer aqui ou ali, talvez. Mas esses não a impediriam de nada, nem mesmo virava regra. Por isso repito: para a garota, só um título bastava.

[Arte e texto por Mari Danielski]

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